domingo, 28 de junho de 2009

LUTOS E PERDAS - a propósito da comunicação de M. Rosário Belo

Quero deixar aqui o meu agradecimento à colega Rosário Belo, que nos apresentou uma maravilhosa comunicação neste último sábado, no âmbito das actividades da AP.
Tratou-se de um trabalho denso e comovente, no meu entender, e que devia ser relido com cuidado. Gostava de ter acesso ao paper, se for possível, no site da AP, por ex. em pdf - ou por mail.
Lutos e perdas são coisas muito complicadas e que suscitam os terrores mais primários. Só uma hora depois, ao volante do meu carro (que não é um Chevrolet nem eu ia pela estrada de Sintra como no poema de F. Pessoa, mas parecia...), percebi que o medo que sentira ao ouvir a comunicação tinha a ver com o medo da loucura ou, se quisermos, o da perda da razão. Trata-se de um assunto com o qual nos debatemos neste momento (o "nós" é uma paciente e eu), talvez daí a minha sensibilidade acrescida.
Talvez a Rosário queira também elaborar um pouco sobre essa outra perda horrível, a de nós mesmos.
Clara Pracana

domingo, 31 de maio de 2009

VIVER NO ESTRANGEIRO AUMENTA A CRIATIVIDADE?

Parece que sim, de acordo com um estudo que envolveu centenas de estudantes e que foi publicado no Journal of Personality and Social Psychology.
O estudo vem referido no Ecomomist (uma excelente revista, aliás) e refere a correlação entre viver, ou ter vivido, no estrangeiro e a criatividade das pessoas e as suas competências relacionais. Parece, no entanto, que viajar não chega. É preciso viver mesmo fora. O estudo não envolveu estudantes portugueses, para quem suspeito que a correlação seria ainda maior. Este santa terrinha nunca foi chão que desse muitas uvas. É tudo muito tacanho e pequenino.
Interessante, não?

Clara Pracana
Nota: os meus posts neste blog, como em outros, são da minha inteira
responsabilidade, e não obrigam mais ninguém.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

IN MEMORIAM JOÃO BÉNARD DA COSTA (1935-2009)


Morreu João Bénard da Costa, homem de uma imensa cultura e que ensinou gerações a ver cinema.
Escrevia, além disso, muitíssimo bem. Tenho religiosamente guardadas as suas célebres folhas da cinemateca.
Como diz o fantasma do Comandante em “The Ghost and Mrs. Muir”, um dos filmes da vida de Bénard (citando Keats),

“Darkling I listen; and for many a time
I have been half in love with easeful Death,
Called him soft names in many a mused rhyme,
To take into the air my quiet breath;
Now more than ever seems it rich to die,
To cease upon the midnight with no pain,
While thou art pouring forth thy soul abroad
In such an ecstasy! (…)
Adieu! adieu! thy plaintive anthem fades
Past the near meadows, over the still stream,
Up the hill-side; and now 'tis buried deep
In the next valley-glades:
Was it a vision, or a waking dream? “

Clara Pracana
Nota: os meus posts neste blog, como em outros, são da minha inteira responsabilidade, e não obrigam mais ninguém.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

O QUE É UM CONTEMPORÂNEO – A PROPÓSITO DO MAIS RECENTE LIVRO DE CARLOS AMARAL DIAS: “CARNE E LUGAR” (ALMEDINA)


Porque será que entre nós raramente há uma palavra psicanalítica a proferir sobre os assuntos que constituem a realidade externa?
Há excepções a esta regra e Carlos Amaral Dias tem sido uma delas. Inúmeros textos seus comprovam a sua preocupação em intervir no quotidiano como cidadão e como psicanalista.
A contemporaneidade é essa relação singular com o próprio tempo. É, simultâneamente, aderir e manter a distância ao próprio tempo, de uma forma que Nietzsche designa por intempestiva.
Não se trata de uma nostalgia do passado, mas de se ter a capacidade de ser acual e inactual ao mesmo tempo. Inactual por intempestivo, actual pela capacidade de perceber e agarrar o seu tempo. Não há coincidência, há diacronia. Mas uma diacronia que não é uma anacronia, é um desfazer do momento para o transformar.
Como escreve o fisófoso italiano Giorgio Agamben, “contemporâneo é aquele que olha fixamente o seu tempo, para lhe perceber, não as luzes, mas a escuridão”.
O contemporâneo interpela as trevas do presentes e olha nos olhos essa luz que não é luz, essa escuridão que permite ver e pensar.
O que Carlos Amaral Dias faz neste livro é exactamente isso: interrogar o presente para o transformar, olhando as trevas nos olhos.
O autor ordenou os vários capítulos do livro, que na sua maior parte tinham sido obecto anteriormente de comunicação oral, num curioso itinerário. Intitulou-os Carne, Verbo, Castelo, Polis, Passagem, Farol, Fogo, Mudança e Lugar.
Os capítulos surgem desta forma como lugares, como topoi de uma mitologia muito pessoal, mas a que Carlos Amaral Dias dá uma dimensão maior. É na articulação destes conceitos que a escrita de Carlos Amaral Dias cria um fulgor original, uma espécie de farol que ilumina a leitura e nos impulsiona para outras paragens.
Uma leitura imprescindível para psicanalistas e não psicanalistas. Para todos os interessados na cultura em geral.
Clara Pracana
Nota: os meus posts neste blog, como em outros, são da minha inteira responsabilidade e não obrigam mais ninguém.

quarta-feira, 13 de maio de 2009


Morreu Clement Freud, neto de Sigmund Freud

Sir Clement, neto de Freud e irmão do conhecido pintor Lucien Freud morreu no passado dia 15 de Abril, em Londres.
Foi criado em Berlim até aos nove anos, data em que o pai (filho de Sigmund Freud) se mudou para Londres. O avô, como se sabe, também foi morrer a Londres, depois de ter abandonado uma Viena que tinha sido a capital cultural da Europa e se tinha transformado no antro nazi que sabemos. Hitler tornou a vida insuportável a milhões de pessoas e os Freud não foram excepção.
Clement Freud parece ter sido um bon vivant e um homem com um particular sentido de humor. Ligado a restaurantes desde novo, foi também jornalista, por sinal o jornalista mais bem pago em Inglaterra nos anos sessenta do século passado. Foi uma figura conhecida nos jornais, rádio e televisão.Foi deputado durante anos. O título de Sir veio coroar a sua carreira política.
Durante a última guerra foi assistente do Marechal Montgomery e no final da guerra serviu de liason officer no Julgamento de Nuremberga.
Escreveu uma autobiografia: “Freud’s Ego”, além de outros livros. Foi reitor das universidades de Dundee e de St. Andrews.
Teve um bloodhood chamado Henry, com o qual fez anúncios televisivos a publicitar alimento para cães.
Teve certamente uma vida muito preenchida. Long live Sir Clement!

Clara Pracana

segunda-feira, 11 de maio de 2009

A POESIA TAMBÉM É VIDA




Um poeta: John Donne (1572-1631)

“Nenhum homem é uma ilha”. Vale a pena ler a citação na íntegra e no maravilhoso inglês de John Donne (que também escreveu poemas eróticos, quem diria):

"No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main; if a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if a promontory were, as well as if a manor of thy friend's or of thine own were; any man's death diminishes me, because I am involved in mankind, and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee."

Clara Pracana

Nota: os meus posts neste blog, como em outros, são da minha inteira
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sexta-feira, 8 de maio de 2009

AINDA A PROPÓSITO DE ANTERO E DO COLÓQUIO EM PONTA DELGADA




Mais uma citação do poeta:
(…) este isolamento num canto mundo, que é já uma meia-morte ou uma morte antecipada (Antero de Quental, Ponta Delgada, 1887, em carta a Oliveira Martins)

Clara Pracana

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