domingo, 31 de maio de 2009

VIVER NO ESTRANGEIRO AUMENTA A CRIATIVIDADE?

Parece que sim, de acordo com um estudo que envolveu centenas de estudantes e que foi publicado no Journal of Personality and Social Psychology.
O estudo vem referido no Ecomomist (uma excelente revista, aliás) e refere a correlação entre viver, ou ter vivido, no estrangeiro e a criatividade das pessoas e as suas competências relacionais. Parece, no entanto, que viajar não chega. É preciso viver mesmo fora. O estudo não envolveu estudantes portugueses, para quem suspeito que a correlação seria ainda maior. Este santa terrinha nunca foi chão que desse muitas uvas. É tudo muito tacanho e pequenino.
Interessante, não?

Clara Pracana
Nota: os meus posts neste blog, como em outros, são da minha inteira
responsabilidade, e não obrigam mais ninguém.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

IN MEMORIAM JOÃO BÉNARD DA COSTA (1935-2009)


Morreu João Bénard da Costa, homem de uma imensa cultura e que ensinou gerações a ver cinema.
Escrevia, além disso, muitíssimo bem. Tenho religiosamente guardadas as suas célebres folhas da cinemateca.
Como diz o fantasma do Comandante em “The Ghost and Mrs. Muir”, um dos filmes da vida de Bénard (citando Keats),

“Darkling I listen; and for many a time
I have been half in love with easeful Death,
Called him soft names in many a mused rhyme,
To take into the air my quiet breath;
Now more than ever seems it rich to die,
To cease upon the midnight with no pain,
While thou art pouring forth thy soul abroad
In such an ecstasy! (…)
Adieu! adieu! thy plaintive anthem fades
Past the near meadows, over the still stream,
Up the hill-side; and now 'tis buried deep
In the next valley-glades:
Was it a vision, or a waking dream? “

Clara Pracana
Nota: os meus posts neste blog, como em outros, são da minha inteira responsabilidade, e não obrigam mais ninguém.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

O QUE É UM CONTEMPORÂNEO – A PROPÓSITO DO MAIS RECENTE LIVRO DE CARLOS AMARAL DIAS: “CARNE E LUGAR” (ALMEDINA)


Porque será que entre nós raramente há uma palavra psicanalítica a proferir sobre os assuntos que constituem a realidade externa?
Há excepções a esta regra e Carlos Amaral Dias tem sido uma delas. Inúmeros textos seus comprovam a sua preocupação em intervir no quotidiano como cidadão e como psicanalista.
A contemporaneidade é essa relação singular com o próprio tempo. É, simultâneamente, aderir e manter a distância ao próprio tempo, de uma forma que Nietzsche designa por intempestiva.
Não se trata de uma nostalgia do passado, mas de se ter a capacidade de ser acual e inactual ao mesmo tempo. Inactual por intempestivo, actual pela capacidade de perceber e agarrar o seu tempo. Não há coincidência, há diacronia. Mas uma diacronia que não é uma anacronia, é um desfazer do momento para o transformar.
Como escreve o fisófoso italiano Giorgio Agamben, “contemporâneo é aquele que olha fixamente o seu tempo, para lhe perceber, não as luzes, mas a escuridão”.
O contemporâneo interpela as trevas do presentes e olha nos olhos essa luz que não é luz, essa escuridão que permite ver e pensar.
O que Carlos Amaral Dias faz neste livro é exactamente isso: interrogar o presente para o transformar, olhando as trevas nos olhos.
O autor ordenou os vários capítulos do livro, que na sua maior parte tinham sido obecto anteriormente de comunicação oral, num curioso itinerário. Intitulou-os Carne, Verbo, Castelo, Polis, Passagem, Farol, Fogo, Mudança e Lugar.
Os capítulos surgem desta forma como lugares, como topoi de uma mitologia muito pessoal, mas a que Carlos Amaral Dias dá uma dimensão maior. É na articulação destes conceitos que a escrita de Carlos Amaral Dias cria um fulgor original, uma espécie de farol que ilumina a leitura e nos impulsiona para outras paragens.
Uma leitura imprescindível para psicanalistas e não psicanalistas. Para todos os interessados na cultura em geral.
Clara Pracana
Nota: os meus posts neste blog, como em outros, são da minha inteira responsabilidade e não obrigam mais ninguém.

quarta-feira, 13 de maio de 2009


Morreu Clement Freud, neto de Sigmund Freud

Sir Clement, neto de Freud e irmão do conhecido pintor Lucien Freud morreu no passado dia 15 de Abril, em Londres.
Foi criado em Berlim até aos nove anos, data em que o pai (filho de Sigmund Freud) se mudou para Londres. O avô, como se sabe, também foi morrer a Londres, depois de ter abandonado uma Viena que tinha sido a capital cultural da Europa e se tinha transformado no antro nazi que sabemos. Hitler tornou a vida insuportável a milhões de pessoas e os Freud não foram excepção.
Clement Freud parece ter sido um bon vivant e um homem com um particular sentido de humor. Ligado a restaurantes desde novo, foi também jornalista, por sinal o jornalista mais bem pago em Inglaterra nos anos sessenta do século passado. Foi uma figura conhecida nos jornais, rádio e televisão.Foi deputado durante anos. O título de Sir veio coroar a sua carreira política.
Durante a última guerra foi assistente do Marechal Montgomery e no final da guerra serviu de liason officer no Julgamento de Nuremberga.
Escreveu uma autobiografia: “Freud’s Ego”, além de outros livros. Foi reitor das universidades de Dundee e de St. Andrews.
Teve um bloodhood chamado Henry, com o qual fez anúncios televisivos a publicitar alimento para cães.
Teve certamente uma vida muito preenchida. Long live Sir Clement!

Clara Pracana

segunda-feira, 11 de maio de 2009

A POESIA TAMBÉM É VIDA




Um poeta: John Donne (1572-1631)

“Nenhum homem é uma ilha”. Vale a pena ler a citação na íntegra e no maravilhoso inglês de John Donne (que também escreveu poemas eróticos, quem diria):

"No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main; if a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if a promontory were, as well as if a manor of thy friend's or of thine own were; any man's death diminishes me, because I am involved in mankind, and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee."

Clara Pracana

Nota: os meus posts neste blog, como em outros, são da minha inteira
responsabilidade, e não obrigam mais ninguém.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

AINDA A PROPÓSITO DE ANTERO E DO COLÓQUIO EM PONTA DELGADA




Mais uma citação do poeta:
(…) este isolamento num canto mundo, que é já uma meia-morte ou uma morte antecipada (Antero de Quental, Ponta Delgada, 1887, em carta a Oliveira Martins)

Clara Pracana

Nota: os meus posts neste blog, como em outros, são da minha inteira
responsabilidade, e não obrigam mais ninguém.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Antero, o deprimido e o revolucionário





Realizou-se no passado fim de semana um seminário sobre Antero de Quental, a depressão e o suicídio, promovido pela Espassos de Vivências com a colaboração da nossa AP. Muito concorrido, foi interessante ver como é possível mobilizar tantas pessoas para o meio do Atlântico. Como Antero escreveu - "uma ilha no mar - ah! mas bem no mar!". Foi em S. Miguel que Antero se suicidou, em 1891.
Aguardo por agora os posts dos mais jovens que participaram neste colóquio - ou outros. Gostava de saber como é que eles sentiram essa experiência.
Deixo para já uma citação de Antero, sobre as célebres conferências democraticas de que ele foi fundador (conhecidas pelas conferências do Casino, por terem lugar no casino lisbonense, no actual largo Rafael Bordalo Pinheiro, em Lisboa):
"Temos um programa mas não uma doutrina; somos uma associação mas não uma igreja".

Clara Pracana

Nota: os meus posts neste blog, como em outros, são da minha inteira responsabilidade, e não obrigam mais ninguém.

Política, conflitos, democracia e psicanálise



Política, conflitos, democracia e psicanálise

Estive a ler um artigo de Adrián Liberman (www.ipa.org.uk) que me pareceu muito interessante, cuja leitura integral recomendo, e sobre o qual gostava de levantar uma discussão neste nosso blog.
O artigo começa por evocar a polarização da política (que não tenho dúvidas que na Venezuela será maior do que cá) :
“An inner world that is expressed through the fantasies of inclusion or exclusion takes on an ominous and sinister appearance when it is reinforced by the prevailing political discourse. And when this phenomenon appears on the couch we have to ask whether it can be dealt with via the familiar dynamic between projection and introjection”.
O autor prossegue afirmando que a ausência da palavra é o caminho para a loucura e a desumanização. E que a nossa tarefa como analistas/terapeutas posicanalíticos é a de restituir a palavra, ou seja, recuperar a capacidade de pensar e falar coma a estrada real para a reafirmação da lei humana.
Liberman acrescenta:

“ [the] emergence [of political conflicts] in the form of hate throws into question the practice of psychoanalysis when the latter fails to take current events into account. In principle, I believe that this situation obliges the analyst to make an open defence of democracy, especially because, in the absence of the rule of law, compliance with the fundamental rule [neutrality and abstinence] becomes meaningless.
(…) One could think of this as a kind of democratic activism both within and outside our consulting rooms. Creating such a figure would also mean that psychoanalysts return to the polis, to the public arenas which the Greeks spoke about, and thus they would return to civil action and to having a deliberate presence in the public sphere so as to complement the above. Such an intentional shift would aim to blur if not erase the artificial distinction (not to mention dissociation) between the public and the private. Hate that is constituted in culture cannot be combated merely from within the four walls of our consulting rooms with our analysands, who will always be few in number compared to society as a whole. Rather, it requires the bringing together of an ethics of commitment with the ethics of desire. Freud, it has to be said, was never against this, and in fact always viewed such an idea favourably”.

Ou seja, o que Liberman põe aqui é a questão sempre renovada da relação da psicanálise com a sociedade e a cukltura (Kultur), e do papel dos psicanalistas na cidadania, que é também um dos temas do último livro do Prof. Carlos Amaral Dias, sobre o qual em breve farei um comentário, tanto mais oportuno quanto fui eu que tive o prazer de o apresentar na cerimónia do lançamento.


Clara Pracana

Nota: os meus posts neste blog, como em outros, são da minha inteira
responsabilidade, e não obrigam mais ninguém.